Protestos aconteceram junto com as comemorações
Duas manifestações a poucos metros uma da outra - uma de celebração, outra de repúdio - marcaram hoje (31) o aniversário de 45 anos do golpe de 64 no Rio. No Salão Nobre do Clube Militar, no quinto andar, mais de 200 militares, inclusive o chefe do Comando Militar do Leste, general Rui Catão, assistiram a palestra de elogio ao crescimento econômico do Brasil durante a ditadura e aplaudiram com entusiasmo a inauguração de placas com os nomes das 126 vítimas oficiais da guerrilha brasileira.
Lá embaixo, na porta da entidade, na Avenida Rio Branco, estudantes exigiram a abertura dos arquivos militares, onde estariam informações sobre os mais de 100 desaparecidos políticos no período, sob o olhar tenso de soldados da Polícia do Exército e da PM."O Brasil ia cair numa ditadura comunista sangrenta", disse o economista Ubiratan Iório. Ele apresentou gráficos e números para tentar demonstrar que, de 1964 a 2008, o Brasil teve seus melhores índices de crescimento no período 64-85, quando foi governado pelos militares. O economista comparou o período anterior ao golpe com o presente. "Não era muito diferente do que é hoje, guardadas as devidas proporções", provocou.
O presidente do Clube Militar, general Gilberto Figueiredo, responsabilizou a esquerda armada pelo prolongamento do regime autoritário. "O mandato do presidente Costa e Silva (1967-69) muito provavelmente teria sido o último do ciclo cívico militar de 64, não fosse a explosão da violência comunista", afirmou. "O grande serviço da guerra revolucionária desencadeada insensatamente no Brasil foi o de ter retardado a restauração da democracia plena em nosso País." As placas foram descerradas por Figueiredo, pelo presidente do Clube de Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, e pelo vice-presidente do Clube Naval, Luiz Fernando Portela Peixoto. Elas são idênticas e ficarão nas sedes das entidades, em pontos de destaque."O Brasil jamais será Cuba!", bradou o brigadeiro que, como os colegas que representavam os outros clubes no ato, é oficial da reserva.
O general Catão, sentado na primeira fila, foi evasivo e não quis comentar nem a palestra sobre a economia durante o período da ditadura. " A avaliação foi feita pelo palestrante. Viemos aqui para aprender", esquivou-se. Quando lhe perguntaram sobre a inauguração das placas, voltou a evitar comentários. "Vim assistir à palestra. O tema da palestra é o desenvolvimento econômico. A homenagem é iniciativa dos clubes. Não tem nada a ver com a palestra." Assim como ele, outros militares da ativa do Exército compareceram ao ato. Depois da solenidade, um coquetel, com cerveja e salgadinhos, foi servido aos participantes no próprio Salão Nobre, que é dominado por uma pintura representando a Proclamação da Independência por D. Pedro I.
Protestos - Lá embaixo, o ambiente era outro. Antes da solenidade, de jovens do autodenominado 'Coletivo de Sabotagens Libertárias', maquiados como torturados, recepcionaram os militares com megafone, no qual uma das ativistas citava os nomes de mortos durante o regime militar, e tambor. "Não somos nenhuma entidade, não somos ligados a nada", disse uma jovem que se identificou apenas como Fernanda.
Mais tarde, na saída, houve tensão quando estudantes liderados pela União Estadual de Estudantes (UEE) e da União da Juventude Socialista (UJS) gritaram palavras de ordem como "Que m.../vaso ruim não quebra". "Tarda mas não falha/aqui está a juventude do Araguaia" e "Abram os arquivos/porcos assassinos". Como no Salão Nobre, os manifestantes cantaram o Hino Nacional."A gente ficou sabendo anteontem pela internet da comemoração da gloriosa Revolução de 64", ironizou o presidente da UEE-RJ, Daniel Iliescu. "Ontem, também pela internet, a coisa ganhou vulto, e organizamos esta atividade." Apesar das provocações, além de um breve bate-boca, não houve nada mais sério. Na calçada, os estudante deixaram uma pichação: "Festa dos assassinos".
Fonte: Agência Estado
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