sexta-feira, 10 de abril de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Política de ordenamento territorial mais fascista que essa é difícil!
























Ao custo de R$ 40 milhões, o governo do Rio vai construir muros no entorno de 11 favelas. O objetivo, segundo o Estado, é conter a expansão das moradias irregulares em áreas de vegetação. Todas as áreas escolhidas, no entanto, cresceram abaixo da média em comparação às demais comunidades. O projeto, inicialmente, será implantado apenas na zona sul, área nobre da cidade.

Segundo o Instituto Pereira Passos (IPP), órgão municipal, a área ocupada por favelas na capital subiu 6,88% de 1999 para 2008. As favelas escolhidas para o projeto cresceram, somadas, 1,18% no período. No morro Dona Marta, onde o projeto está em andamento, houve redução do terreno ocupado de 0,99%. O levantamento é feito a partir de fotos aéreas e não faz contagem da população.


A iniciativa do governador Sérgio Cabral (PMDB) recebeu críticas do escritor português José Saramago.

"Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do Carnaval, a situação não está melhor. A ideia, agora, é rodear as favelas com um muro de cimento armado de três metros de altura. Tivemos o muro de Berlim, temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime organizado campeia por toda parte, as cumplicidades verticais e horizontais penetram nos aparelhos de Estado e na sociedade em geral. A corrupção parece imbatível. Que fazer?", questionou o escritor português em seu blog.

É a mesma opinião de Itamar Silva, coordenador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. "O muro separa, cria guetos. Vai na contramão da nossa luta de defender que favela faz parte da cidade."
O Estado afirma que o objetivo da medida é conter a expansão das favelas. Serão mais de 11 mil metros de muros de três metros de altura, ao custo previsto de R$ 40 milhões. As construções de uma creche, um hospital e dois centros de integração e cidadania na Rocinha (com restaurante e usina de reciclagem), por meio do Programa de Aceleração do Crescimento, custarão R$ 32 milhões.

Duas das favelas beneficiadas pelo PAC serão cercadas: Rocinha e Pavão-Pavãozinho. A primeira, em São Conrado, cresceu em nove anos 1,41%. Já a comunidade de Copacabana foi a que mais ampliou, proporcionalmente, a ocupação na zona sul: 4,76%. Mas, para o IPP, o maior crescimento proporcional foi na zona oeste (11,5%).

O presidente da Federação das Favelas, Rossino de Castro, afirmou ser contra a medida. Disse que líderes comunitários sentem medo de resistir ao projeto e que, com isso, suas comunidades sejam excluídas de projetos sociais do governo. "Ouvimos duas comunidades, a Babilônia e o Vidigal, que são contra. Mas eles têm receio de que, se não permitirem o muro, não levem os projetos para lá."

Para Marcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da SOS Mata Atlântica, um muro não é a melhor forma de evitar o avanço de construções irregulares sobre a mata. Para ela, a comunidade deve se envolver na proteção das áreas verdes.
O sociólogo Ignácio Cano diz suspeitar que "há um elemento de segurança pública no muro", escondido pelo governo para não aumentar a polêmica.


Outro lado
Presidente da Emop (empresa pública estadual responsável pelas obras nas favelas), Ícaro Moreno minimizou as críticas à construção dos muros. "O Saramago deu sua opinião e eu também posso dar a minha sobre o trabalho dele. Não vejo polêmica. Há uma aversão a muros, mas muros existem em casas, condomínios e linhas ferroviárias."

Ele diz que, apesar da estabilidade da ocupação de algumas favelas, é preciso evitar que os moradores ergam construções em áreas de risco. "A sociedade da zona sul e das comunidades apoia. O desmatamento é ruim para todos."

A iniciativa vai receber o apoio da Prefeitura do Rio, que cobrirá parte do gasto. Depois da zona sul, as amuradas devem ser construídas na zona norte.
O secretário municipal de Urbanismo do Rio, Sérgio Rabaça Moreira Dias, nega que a implantação de muros em favelas da zona sul seja uma forma apenas de isolar a pobreza. Segundo ele, o foco é ambiental."As barreiras estão orientadas pelas áreas de maior concentração [demográfica] e pela localização das áreas de risco e de preservação ambiental."

A construção dos muros também tem apoio do presidente da associação de moradores do Alto Gávea, Luiz Fernando Pena. Entre 1979 e 1982, a associação construiu um paredão de 550 metros que, diz ele, evitou que a Rocinha avançasse para o Leblon.
"É uma coisa favorável à qualidade de vida dos moradores da Rocinha, pois quanto maior o adensamento, piores as condições sanitárias. Não vejo segregação. A minha casa é murada e meu vizinho não se sente segregado."

Procurados pela reportagem, o governador Sérgio Cabral Filho e o vice-governador Luiz Fernando Pezão não quiseram comentar o assunto.


ITALO NOGUEIRAANDRÉ ZAHAR
da Folha de S.Paulo, no Rio

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Nos 45 anos do golpe, militares homenageam vítimas da guerrilha

Protestos aconteceram junto com as comemorações



















Duas manifestações a poucos metros uma da outra - uma de celebração, outra de repúdio - marcaram hoje (31) o aniversário de 45 anos do golpe de 64 no Rio. No Salão Nobre do Clube Militar, no quinto andar, mais de 200 militares, inclusive o chefe do Comando Militar do Leste, general Rui Catão, assistiram a palestra de elogio ao crescimento econômico do Brasil durante a ditadura e aplaudiram com entusiasmo a inauguração de placas com os nomes das 126 vítimas oficiais da guerrilha brasileira.

Lá embaixo, na porta da entidade, na Avenida Rio Branco, estudantes exigiram a abertura dos arquivos militares, onde estariam informações sobre os mais de 100 desaparecidos políticos no período, sob o olhar tenso de soldados da Polícia do Exército e da PM."O Brasil ia cair numa ditadura comunista sangrenta", disse o economista Ubiratan Iório. Ele apresentou gráficos e números para tentar demonstrar que, de 1964 a 2008, o Brasil teve seus melhores índices de crescimento no período 64-85, quando foi governado pelos militares. O economista comparou o período anterior ao golpe com o presente. "Não era muito diferente do que é hoje, guardadas as devidas proporções", provocou.

O presidente do Clube Militar, general Gilberto Figueiredo, responsabilizou a esquerda armada pelo prolongamento do regime autoritário. "O mandato do presidente Costa e Silva (1967-69) muito provavelmente teria sido o último do ciclo cívico militar de 64, não fosse a explosão da violência comunista", afirmou. "O grande serviço da guerra revolucionária desencadeada insensatamente no Brasil foi o de ter retardado a restauração da democracia plena em nosso País." As placas foram descerradas por Figueiredo, pelo presidente do Clube de Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, e pelo vice-presidente do Clube Naval, Luiz Fernando Portela Peixoto. Elas são idênticas e ficarão nas sedes das entidades, em pontos de destaque."O Brasil jamais será Cuba!", bradou o brigadeiro que, como os colegas que representavam os outros clubes no ato, é oficial da reserva.

O general Catão, sentado na primeira fila, foi evasivo e não quis comentar nem a palestra sobre a economia durante o período da ditadura. " A avaliação foi feita pelo palestrante. Viemos aqui para aprender", esquivou-se. Quando lhe perguntaram sobre a inauguração das placas, voltou a evitar comentários. "Vim assistir à palestra. O tema da palestra é o desenvolvimento econômico. A homenagem é iniciativa dos clubes. Não tem nada a ver com a palestra." Assim como ele, outros militares da ativa do Exército compareceram ao ato. Depois da solenidade, um coquetel, com cerveja e salgadinhos, foi servido aos participantes no próprio Salão Nobre, que é dominado por uma pintura representando a Proclamação da Independência por D. Pedro I.


Protestos - Lá embaixo, o ambiente era outro. Antes da solenidade, de jovens do autodenominado 'Coletivo de Sabotagens Libertárias', maquiados como torturados, recepcionaram os militares com megafone, no qual uma das ativistas citava os nomes de mortos durante o regime militar, e tambor. "Não somos nenhuma entidade, não somos ligados a nada", disse uma jovem que se identificou apenas como Fernanda.

Mais tarde, na saída, houve tensão quando estudantes liderados pela União Estadual de Estudantes (UEE) e da União da Juventude Socialista (UJS) gritaram palavras de ordem como "Que m.../vaso ruim não quebra". "Tarda mas não falha/aqui está a juventude do Araguaia" e "Abram os arquivos/porcos assassinos". Como no Salão Nobre, os manifestantes cantaram o Hino Nacional."A gente ficou sabendo anteontem pela internet da comemoração da gloriosa Revolução de 64", ironizou o presidente da UEE-RJ, Daniel Iliescu. "Ontem, também pela internet, a coisa ganhou vulto, e organizamos esta atividade." Apesar das provocações, além de um breve bate-boca, não houve nada mais sério. Na calçada, os estudante deixaram uma pichação: "Festa dos assassinos".


Fonte: Agência Estado